Juros Futuros no Brasil: Declínio da Curva impulsionado por Melhoria Fiscal e Ambiente Externo

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By Micheli Faoro

Os juros futuros de curto prazo encerraram o dia com pouca variação ou ligeira tendência de alta, enquanto os de longo prazo caíram mais de 10 pontos-base nesta sexta-feira. Essa movimentação reflete uma melhora na percepção do cenário inflacionário e fiscal, além do aumento do apetite por risco no mercado internacional, o que tem atraído investimentos estrangeiros para ativos brasileiros.

A queda na produção industrial em abril reforçou as evidências apresentadas pelo PIB divulgado ontem, indicando que o setor continuou enfrentando dificuldades no segundo trimestre após uma fraca performance no primeiro trimestre. Isso contribui para sustentar as expectativas de um ciclo de aperto monetário nos próximos meses. Além disso, a queda do dólar para R$ 4,95 também influenciou o formato da curva, que ao longo da semana perdeu sua inclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,215% (máxima), em comparação com 13,192% no ajuste anterior, e a taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,45% para 11,47%. Já a taxa do DI para janeiro de 2027 caiu de 10,87% para 10,78%, atingindo o patamar mais baixo desde o fechamento em 30/12/2021, quando estava em 10,57%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 11,10%, em comparação com 11,21%. Durante a semana, as taxas de curto e médio prazo permaneceram estáveis, enquanto as taxas de longo prazo recuaram cerca de 20 pontos.

O forte desempenho das ações, das commodities e o aumento nos juros dos Treasuries no mercado internacional refletiram a busca por risco nesta sexta-feira. A aprovação do acordo para suspender o teto da dívida dos Estados Unidos no Congresso reduz a tensão nos ativos, porém ainda aguarda-se o relatório de empregos (payroll) de maio para confirmar se a expectativa de um Federal Reserve mais dovish a partir de agora se sustentará.

Embora a criação de 339 mil empregos nos Estados Unidos em maio tenha superado significativamente o consenso de mercado de 200 mil vagas, o aumento de 0,3% no salário médio por hora estava dentro das expectativas, e a taxa de desemprego subiu para 3,7%, acima dos 3,5% previstos, o que respalda a expectativa de que as taxas de juros americanas entrem agora em um período de estabilidade.

A notícia de que a China está considerando um novo pacote de medidas para impulsionar a atividade econômica também impulsionou os negócios, já que o país vinha mostrando dados econômicos mais fracos, de acordo com a Bloomberg.

Além dos fatores externos, o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, afirma que a curva de juros também respondeu a questões internas, principalmente os sinais de desaceleração do crescimento futuro, já evidenciados pelo PIB divulgado ontem. A expansão no primeiro trimestre concentrou-se no setor agropecuário, enquanto houve fraqueza generalizada na demanda. Beyruti afirma: “O PIB já mostrava queda no consumo e um desempenho ruim da indústria. A Pesquisa Industrial Mensal (PIM) também sinalizou isso no início do segundo trimestre”. A produção industrial caiu 0,6% em abril, superando as estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (-0,3%).

Esse cenário reforça a ideia de que a política contracionista de juros do Banco Central já está esfriando a atividade econômica, justificando a indicação da curva de que a taxa Selic deve começar a ser reduzida no início do segundo semestre. Beyruti afirma que as taxas de curto prazo estão mais resistentes a cair, pois já haviam recuado bastante, e esse cenário já estava precificado. Por isso, o mercado busca agora o prêmio nas taxas de longo prazo, confiante também no avanço da tramitação do texto do arcabouço fiscal no Senado.

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